Deus é nosso Pai e por isso nos dá dons incontáveis, que por serem tão naturais, muitas vezes deixamos de notar. Se não fôssemos presenteados por Deus não seríamos capazes de pensar, falar, ouvir, enxergar, amar, ir e vir…enfim, somos dotados de inúmeras capacidades que nos dão condições de sobrevivência e de progresso.
Dentre todos esses dons a fertilidade do homem e da mulher é algo extraordinário, pois nos permite participar da obra da criação reproduzindo filhos e filhas a imagem e semelhança de Deus, tornando-nos assim, co-criadores com Ele. Essa complementariedade entre os dois sexos é que permite a geração de uma nova vida! Homem e mulher Ele os criou! (Gn 1, 27)
A relação sexual é algo reservado para os casados, porque sempre terá consequências que só podem ser assumidas dentro de um compromisso de fidelidade e de um amor que é antes de tudo doação. O matrimônio é o espaço adequado e seguro para a geração da vida humana, porque pela força do Espírito Santo homem e mulher se tornam uma só carne (cf. Mc 10, 7-8) e assumem o compromisso indissolúvel de formar uma família.
O matrimônio é um reflexo do amor de Cristo pela Igreja (cf. Gl 5, 25) e é na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que compreendemos a entrega do corpo! Tendo doado tudo e não lhe restando mais nada, sua entrega alcançou o nível do corpo, morrendo por nós em uma cruz.“Isto é o meu corpo que é dado por vós! ” (Lucas 22, 19). Dessa forma Cristo ordenou a verdadeira doação, por isso a entrega do corpo acontece somente mediante o sacramento do matrimônio, depois de terem partilhado os planos, sonhos, ideais, medos e dificuldades, os esposos realizam a doação de si que chega às últimas consequências: a entrega do corpo.
São João Paulo II nos ensina que a relação conjugal é para além de “uma só carne”. Logo não é a união de dois corpos e sim de duas pessoas inteiras!
Se o matrimônio é esse lugar onde acontece a doação se si mesmo atingindo o nível do corpo, também o corpo deve ser doado e acolhido na sua integralidade. Muitos casais ferem essa integralidade por meio da contracepção. – Eu te acolho, mas sem a sua fertilidade! Quero você somente pela metade.
É no amor íntimo e integral que se dá a fecundidade do casal.
É por isso que a Igreja ensina que a relação sexual no casamento tem duas dimensões igualmente importantes e que jamais podem ser separadas: a dimensão unitiva e a dimensão procriativa.
Quando separamos essas duas dimensões o ato sexual perde a sua conjugalidade, ou seja, perde sua essência e seu princípio que é de fazer dois, um.
A Igreja orienta os casais a viverem a paternidade responsável de forma generosa com Deus, uma vez que são co-criadores com Ele. Porém, compreende que essa generosidade deve ser acompanhada de responsabilidade, por isso considera que por razões justas e não egoístas os casais podem espaçar o nascimento dos filhos.
“Por razões justas, os esposos podem querer espaçar o nascimento de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável” Catecismo da Igreja Católica 2368
O desejo de evitar uma gravidez (quando há razões suficientes para isso) não é o que corrompe o comportamento dos esposos. O que corrompe o sexo acompanhado de contracepção é a escolha específica de tornar estéril uma união potencialmente fértil.
A contracepção causa muitos males na vida de um casal: pode abrir portas para a infidelidade, a falta de respeito e a relação sexual se torna somente a busca pelo prazer, quando deveria ser o lugar onde o casal se doa mutuamente. O Papa Paulo VI alertou os casais na encíclica Humanae Vitae sobre esses riscos:
“É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada”. (Humanae Vitae 17)
A Igreja não desconsidera as dificuldades que o casal enfrenta para viver as condições impostas pelo matrimônio cristão, mas não pode excluir os esposos de testemunhar o evangelho com suas vidas:
“Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades, por vezes graves, inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para todos, de resto, “é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida”. Mas, a esperança desta vida, precisamente, deve iluminar o seu caminho, enquanto eles corajosamente se esforçam por “viver com sabedoria, justiça e piedade no tempo presente”, sabendo que “a figura deste mundo passa”. (Humane Vitae 25)
Então o que a Igreja orienta aos casais, que por razões justas, precisam espaçar o nascimento dos filhos?
Os métodos de regulação de natalidade baseados na observação e no recurso aos períodos infecundos estão de acordo com os critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam os corpos dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Catecismo da Igreja Católica 2370.
Existem muitos métodos naturais para a vivência da paternidade responsável e todos eles estão de acordo com o ensinamento da Igreja, porém abordaremos um pouco sobre o Método de Ovulação Billings.
As primeiras descobertas sobre o Método de Ovulação Billings aconteceram em 1953 quando, em Melbourne na Austrália, o Frei Maurice Catarinich convidou o médico neurologista Dr. John Billings para realizar um trabalho com os casais que precisavam espaçar o nascimento de seus filhos de acordo com a doutrina da Igreja Católica.
O Dr. Billings aceitou realizar o trabalho por três meses até que o frei conseguisse outro médico para substituí-lo, porém, ao acompanhar de perto as dificuldades dos casais resolveu pesquisar um pouco mais sobre a fertilidade feminina e descobriu a relação do período fértil do ciclo menstrual com o muco cervical, sensível ao corpo da mulher. Então consideramos que esses foram os três meses mais longos da história, porque a partir daí o Dr. Billings dedicou toda sua vida a dar aos casais uma ferramenta eficaz para a vivência da paternidade responsável.
Um pouco mais tarde juntou-se a ele, sua esposa Dra. Evelyn Billings, que ao conversar com as mulheres tinha uma compreensão maior, por também perceber em seu próprio corpo os sintomas da fertilidade e da infertilidade. Graças ao precioso trabalho da Dra. Evelyn Billings podemos afirmar que qualquer mulher em idade reprodutiva pode fazer o uso do Método de Ovulação Billings, ainda que tenha ciclos irregulares ou se encontre com a ovulação atrasada, como é o caso de uma mulher na fase da amamentação ou da pré-menopausa.
Nesse processo também é de grande importância a contribuição de dois cientistas: o Dr. James Brown e o Professor Erik Odeblad, responsáveis junto com o Dr. John Billings pela comprovação científica do Método de Ovulação Billings, aprovado pela organização mundial da saúde com 97% de eficácia para espaçar a gravidez. Outras pesquisas estabelecem esse percentual em 99%*.
A base desse método está em conciliar a fertilidade da mulher que é cíclica, e por isso experimenta durante o ciclo menstrual apenas alguns dias férteis, com a fertilidade masculina que é continua. A mulher observa todos os dias a sensação em sua vulva e as anota em um gráfico próprio usando poucas palavras. Com a ajuda de um instrutor qualificado o casal será capaz de identificar os períodos férteis e inférteis de cada ciclo.
No Brasil, o órgão responsável pelo ensino e divulgação do autêntico Método de Ovulação Billings é a CENPLAFAM, que credencia os instrutores e garante a eficácia de um bom trabalho realizado com os casais.
As vantagens do Método de Ovulação Billings são inúmeras: Moralmente aceito por todas as culturas, é fácil de aprender, simples de usar e dispensa qualquer tipo de drogas ou dispositivos para o reconhecimento da fertilidade.Ele é uma forma natural para conseguir ou espaçar uma gravidez e para monitorar a saúde reprodutiva da mulher.Não se trata de um método contraceptivo, mas da aceitação da fertilidade como dom de Deus, devolvendo ao casal a responsabilidade na constituição de sua família na abertura a vida, respeitando a liberdade e a natureza do ser humano.
Como instrutor posso testemunhar o quanto os casais crescem na cumplicidade, na intimidade e na doação mutua ao fazer o uso deste método. Muitos homens chegam receosos, preocupados com os períodos onde deverão se abster das relações sexuais, mas em pouco tempo percebem o bem que causam a suas esposas que melhoram no humor, na libido e principalmente tem sua saúde reprodutiva restabelecida, além de constatarem que não se trata de um método de abstinência, uma vez que conhecendo e aplicando as quatro regras do método o casal pode ter muitas relações conjugais durante o ciclo menstrual.
Com o tempo o casal aprende a dedicar mais tempo ao diálogo e à oração nos períodos em que precisam esperar para retomar as relações conjugais e aprendem que existem muitas outras formas de manifestar o amor conjugal. Uma frase impactante de São João Paulo II nos ajuda a entender que a espera é uma forma de fidelidade: “Quando não está disposto a esperar um só dia, não será capaz de amar para sempre! ”
“A abstinência periódica pode produzir efeito muito benéfico no relacionamento psicológico do casal. O abraço físico do amor esponsal é posto de repouso, e é bom que os casados aprendam que o amor pode ser dado a conhecer por várias outras formas” (Dr. John Billings)
O Método de Ovulação Billings permite aos cônjuges conversar sobre sua fertilidade e contemplar a beleza da criação em seus corpos, por isso muitos casais se abrem a vida, quando já tinham decidido não ter mais filhos. É comum atendermos casais que estão com medo de uma nova gestação ou que planejam os filhos para um futuro muito distante mudarem de ideia quando percebem que Deus dá a eles esse dom de serem co-criadores com Ele, fica mais fácil entender que em seu amor de Pai, Ele nunca deixará faltar sua providência aos corações generosos!
*Indian Council of Medical Research Task Force on NFP (1995) e Jiangsu Family Health Institute, China (1997)
Allan Lucas
Oblato Corpus Christi e e membro do CENPLAFAM
gostaria de saber mais desse metodo , conhecer o testemunho e a forma correta ensinada pelo instrutor